Já vos falei aqui da minha paixão por África, de como sou feliz quando os meus pés pisam aquela terra vermelha ou quando os meus olhos testemunham a retirada do sol ao fim de um dia na selva. Como escreveu Karen Blixen: “Há algo na vida de safari que nos faz esquecer todas as dores …”. E é verdade. Em nenhum outro continente me sinto tão viva como em África…

Desta vez, depois de uns dias de que já vos dei conta em Moçambique, fui de carro até à Africa do Sul. Partimos de Maputo por volta das 5h da manhã para conseguirmos estar na fronteira bem cedo e, assim, evitarmos grandes filas. O destino era Sabi Sand uma reserva privada adjacente ao Kruger Park. Pelas contas do Sr. Betinho, o nosso motorista moçambicano (um homem incrivelmente educado, culto, divertido), demorariamos cerca de 5 horas a chegar ao Kirkman’s, a nossa “casa” nos 2 dias seguintes. Decidimos em vez de ir pela estrada que circunda o parque (o trajeto mais rápido), atravessar o Kruger (onde não se pode passar dos 50Km à hora) para começarmos o safari tão cedo quanto possível.
Dois minutos depois de entrarmos em Crocodile Bridge, uma das portas do Kruger, fomos recebidos por uma girafa, um dos animais que mais amo! Percebemos então que tinhamos tomado a decisão certa…

É incrível como sem sairmos da estrada fomos vendo quase todos os animais. Às tantas vimos uns carros parados e percebemos que alguma coisa se passava. Era um leão abancado em pleno alcatrão que dali não saía nem por mais uma! À nossa frente, o rei da selva marcava território como quem diz “não pensem que é por terem alcatroado este bocado de terra que isto vos pertence”…

Chegamos ao Kirkman’s Kamp de alma cheia. A nossa travessia pelo Kruger, uma das maiores reservas animais do mundo (tem perto do tamanho de Israel!) tinha valido a pena, apesar de ter dado também para eu perceber que não gostaria de ficar instalada no parque. O facto de as estradas serem alcatroadas e de muitos dos visitantes usarem os próprios carros para fazer safari, faz com que nos sintamos pouco na selva. Chega a haver filas de trânsito para ver os animais…
Mas estavamos finalmente no nosso lodge, explorado pela famosa cadeia andBeyond, e em Sabi Sand, onde alcatrão é coisa que não existe.
Chegar ao Kirkman’s é regressar aos anos 20, a uma casa colonial, onde todos os ambientes mantêm o espirito da época e de Harry Kirkman, o ex proprietário, um famoso caçador daquelas paragens. Transformada num pequeno hotel com 18 suites, a “casa mãe” abençoada por uma árvore gigante com centenas de anos, preserva os espaços públicos como se de uma casa particular se tratasse. As refeições servidas no jardim com vista para a savana são, todas, divinais. Nada como juntar um bom pequeno-almoço ou almoço a uma vista de cortar a respiração sobre uma planície…
Os quartos, todos com uma varanda a dar para essa dita planície, interrompida apenas pelo Sand River, são fabulosos. O nosso tinha uma cama king size embrulhada nuns lençois brancos fantásticos, e uma casa de banho grande com uma banheira (a imitar as da época da casa) e um duche separado. Não senti falta de absolutamente nada. Só, talvez, de mais umas horas de sono porque a vida de safari não se coaduna com manhãs na cama. A atividade da selva não espera por ensonados e às 5.30 da manhã há que estar a postos para o despertar dos animais. Mas no que me toca, nunca acordo tão cedo e tão feliz como em África…
Confesso que as minhas expectativas relativamente ao safari, propriamente dito, na África do Sul, não eram muito altas. Já tinha feito safaris incríveis no Quénia, na Tanzânia, no Botswana, e pensava que pouco me surpreeenderia. Puro engano. Foi de longe o sítio onde vi os animais mais perto, muitas vezes a menos de 1 metro.
Sei, por experiência, que um bom ranger faz diferença. O Matthew Poole foi talvez um dos melhores que conheci. Nascido e criado ali perto, em plena selva, calçou os primeiros sapatos aos 14 anos. Até então, cresceu como os seus amigos animais, sem preocupações mundanas, aprendendo desde cedo a lidar com eles. Tem um perfil no Instagram, “photowildsa”, com fotografias maravilhosas da vida animal e ama profundamente o que faz.
Neste safari, com o intuito de vos mostrar melhor o que sinto em plena savana, resolvi filmar (sempre com o Iphone) mais do que fotografar. Editei um vídeo em que só não fui capaz de gravar a minha cara quando um leopardo se sentou a centímetros do meu lugar no jipe, a olhar para mim fixamente, em posição de salto. Fiquei sem pinga de sangue. O Matthew, com o conhecimento e a calma que o caracterizam, dizia baixinho: “don’t move!”. Eu tentava obedecer, mas o meu coração que teima em ter vida própria, batia desenfreadamente denunciando o meu pânico…
Hoje, que tudo passou, tenho pena de não ter filmado esse momento único para vos mostrar, mas sou feita de sangue quente. O frio falta-me muitas vezes em alturas cruciais. Mesmo assim, espero que gostem das imagens que se seguem, no link abaixo.
FG