Este é um post mais emotivo do que útil.
Vou falar (e sobretudo mostrar) mais cores do que hóteis, mais pormenores do que restaurantes, um pouquinho da África azul pelo azul dos meus olhos. Não vou escrever sobre pobreza, sobre miséria, sobre corrupção. Quero, só e mais nada, partilhar imagens que trago no coração de um país distante, que nos é tão próximo.
Regressei a Moçambique, mais precisamente a Maputo, vinte e tal anos depois de lá ter estado aquando do lançamento da SIC Internacional. Nessa altura aterrei na capital moçambicana vinda recentemente de Luanda e lembro-me de ter sentido uma diferença abissal entre as duas cidades das ex-colónias portuguesas. Luanda estava, então, muito mais destruída, física e psicologicamente. Maputo, apesar do caos, guardava memória de uma vida bem vivida com tanto ainda por viver. E tinha o Polana, onde fiquei hospedada na época, uma joia da hotelaria africana que tornava difícil o regresso a casa…
Não tive, nestes vinte anos, oportunidade de lá voltar. Ia ouvindo relatos de amigos que se mudaram para Moçambique de armas e bagagens, uns à procura de uma vida melhor num país que “parecia prometer” (?), outros em busca das suas raízes, quais árvores cortadas à força que teimam em voltar ao solo mãe para renascer.
Desta vez não fiquei no Polana porque um amigo teve a amabilidade de nos (a mim e ao meu marido) convidar para ficarmos instalados no seu apartamento lindo. E, antes de mais, deixem-me dar-vos conta da vista da sala…

Foi este pôr do sol que me recebeu, vinte anos depois, na cidade que, sem eu entender bem, me tinha ficado entranhada. Percebi agora porquê.
Maputo tem um azul igual ao de Portugal, tem uma luz limpa, dourada. Tem magia no ar, tem alegria no olhar do povo que, apesar de viver abaixo dos minímos aceitáveis, nunca nega um sorriso doce, uma palavra simpática. Tem uma energia leve, positiva, africana.
Descobri uma cidade em progresso, com vida cultural, com restaurantes cosmopolitas (o Zambi – que junto, abaixo, uma foto da esplanada -, o Manjar dos Deuses, o Bel Piatto, faltou-me o Dhow que me disseram ser ótimo para almoçar, mas que, estranhamente, fecha ao domingo e à segunda), com vários hotéis novos, de bom aspeto (nenhum que se compare ao Polana, apesar das recentes “chinesices” escusadas, como uma fonte que tapa a vista da varanda para o mar, ou uns ananases que dão luz espalhados pelo teto…), com cores vibrantes que a tornam uma cidade alegre, com lembranças cuidadas da época colonial, nos edifícios, nas ruas, com carácter…
Fiquei pouco tempo em Maputo.
Quis, antes de ir para a África do Sul, mergulhar no Índico, o meu oceano favorito!
Ainda não foi desta que concretizei a vontade de ir a Inhambane, ao Tofo, ao Bazaruto, às Quirimbas. Um dia há-de ser…
Por agora fiquei-me pela Inhaca, uma ilha a duas horas de barco de Maputo, e por uma casa maravilhosa que conseguimos alugar por ser de amigos de amigos, mas que não está no mercado…
Durante dois dias matei saudades de um Índico mais frio do que aquele que conhecia mas igualmente translúcido e do sol africano que me emociona sempre que se deita.
Lembrei-me, como não podia deixar de ser, de Mia Couto. Muito. “O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro”.
Levei Maputo e a Inhaca na pele, o lugar em mim onde moram, e, na estrada do sonho, parti para a selva, aventura que contarei aqui, noutro post, que este já vai longo…
FG