Desengane-se quem pensa que o caminho de carro entre Hanói e Halong Bay é bonito. Não é. E, além de não ser bonito, é lento: 160km em quase 4 horas, com uma paragem numa loja sinistra de artesanato vietnamita!
Para mim foi uma desilusão. Fantasiei que ia passar por campos de arroz a perder de vista, mas o máximo que vi foram uns pequenos quadrados plantados, sempre guardados por uma casa e, na maior parte das vezes, por um túmulo. Isso mesmo, um túmulo! Passo a explicar: os campos de arroz existentes perto de Hanói pertencem a donos de pequenas quintas que os cultivam para, antes de mais, garantirem a alimentação da família. Essas quintas estão na mesma família há várias gerações e, cada vez que morre o homem mais velho (dono da quinta), é enterrado no meio do arrozal. Os vietnamitas acreditam que desta forma o cultivo fica protegido dos maus espíritos. Conclusão: dependendo da antiguidade da quinta, os ditos campos são uma mistura esquizofrénica de cemitérios e arrozais.
Quatro horas e 160 km depois de, às 7 da manhã, ter deixado Hanói, cheguei finalmente a Halong Bay. Nos últimos kms da viagem, apesar da tempestade que se fazia sentir, deu para adivinhar que me esperava algo especial…
Entrei numa espécie de terminal de passageiros onde, quando parasse a chuva torrencial, os trovões e os relâmpagos, embarcaria no Dragon Legend, o barco que escolhi para passar as 24 horas seguintes. Quis Deus (ou Buda, sei lá…) que eu não o fizesse sem antes apanhar um susto de morte: um estrondo ensurdecedor provocado pela queda de um relâmpago a poucos metros do terminal trouxe-me à memória sons do Apocalypse Now. Tremi dos pés à cabeça. E, nesse momento, desejei não embarcar. Se aquilo voltasse a acontecer comigo dentro do barco in the middle of nowhere?
Descansei quando percebi que os barcos que navegam em Halong Bay não são feitos para andar no meio de tempestades, por isso o governo tem o maior cuidado com as condições meteorológicas, cancelando, se for caso disso, sem dó nem piedade, qualquer cruzeiro.
Com a mesma força com que vem, a tempestade parte sem deixar grande rasto: o sol, a ferver, em poucos minutos seca as inundações, as nuvens evaporam-se no céu azul como que por milagre…
E, nessa altura, pude embarcar. Com uma hora de atraso, mas com uma das novas 7 maravilhas do mundo ali, à minha frente.
Reza a lenda que, há muito tempo, quando o Vietname lutava contra os invasores chineses, os deuses enviaram uma família de dragões para ajudar a defender a terra. Esses animais míticos esculpiram grandes vales e desfiladeiros com as suas caudas, que, mais tarde, inundaram criando a Baía de Halong (“dragão descendente”). O povo manteve as suas terras seguras e formou o que mais tarde viria a ser o Vietname. Após a invasão, os dragões quiseram permanecer na terra, num local bonito e pacífico. Decidiram, então, ficar a viver na baía.
E como uma imagem vale mais do que mil palavras, aqui ficam algumas fotos (sem dragões, todas tiradas com o Iphone e aquelas onde eu estou captadas pelo Nuno, meu marido) que dispensam legendas ou comentários …
Devido à sua natureza, a maioria destas 3.000 ilhotas perdidas no Pacífico está desabitada – coberta apenas por emaranhados de selva, algumas, com pequenas franjas de areia.
A vida local adere-se à água, onde as pessoas vivem de e para o mar, em aldeias flutuantes pintadas de cores vivas.
Nada melhor do que poder observar toda esta maravilha a bordo de um barco de luxo. E o Dragon Legend é esse barco. Há várias companhias a navegar pelas águas de Halong Bay tornando a escolha difícil. Mas acertei em cheio! Porque além de tudo o resto, uma das grandes vantagens do Dragon Legend é andar afastado dos outros barcos. O que faz toda a diferença…
O meu quarto era maravilhoso, com uma cama de casal extra grande e com um jacuzzi por baixo de uma janela gigante na casa de banho. O serviço é, tal como o resto do barco, 5 estrelas. Com um senão para mim: só servem comida vietnamita, que, para quem não é grande fã, fica sem alternativa… Mas o menu é variado e bem apresentado. O problema, para o meu paladar, é uma erva com um sabor adocicado (da qual não gosto nem sei o nome) que eles usam em todos os temperos, fazendo com que toda a comida saiba à dita erva.
Optei por um cruzeiro de apenas um dia, mas, se fosse hoje, talvez escolhesse o de dois, porque 24 horas passam num ápice sem dar tempo para fazer várias atividades disponíveis: kayak, visitas a praias e grutas, etc.
A única coisa que me conformou foi o facto de o meu destino seguinte ser Nha Trang, uma praia no sul do Vietname. Estava desejosa de dar um mergulho. É que (e agora vem a parte má!) não se deve tomar banho em Halong Bay. A água, apesar de ser a uma temperatura excelente, é poluída. Todos os barcos, e são muitos, descarregam na baía, e os turistas (a maioria asiáticos) não têm o menor cuidado: tudo o que é lixo vai borda fora… Imperdoável num país que quer fazer do turismo uma bandeira!
Hesitei muito em ir a Halong Bay. Não gosto de muita gente junta, de locais hiper turísticos, de excursões… Há muitas críticas negativas sobre a baía devido à quantidade de barcos que por lá navegam diariamente, num rodopio constante. Daí a importância de escolher um barco que não seja “Maria vai com as outras”…
Dito isto, o meu conselho para quem esteja a pensar viajar ao Vietname é de que não deixe de ir a Halong Bay. Porque a beleza da baía dos dragões é, realmente, avassaladora.
FG