Há uns dias estive quase, quase a criar um “clube” online para (ex-)fumadores, tal era a necessidade de descobrir alguém que se identificasse comigo.
Passo a explicar: deixar de fumar é difícil. Mesmo! Os primeiros dias são de levar qualquer um à loucura (parecemos baratas tontas, sem norte); depois, por uns tempos, o entusiasmo toma conta de nós deixando as agruras do vício meio adormecidas (é o período de “graça”); e 4 meses passados de plena abstinência sem recurso a medicamentos ou a qualquer substituto de nicotina (o meu caso), quando achamos que já estamos mais tranquilos e seguros, somos surpreendidos com dias ou horas desesperantes. Sentimos – vinda literalmente do nada – uma vontade férrea de pegar num cigarro e fumá-lo como se não houvesse amanhã! Aí, inebriados, ouvimos dentro de nós uma voz maldita (se o Diabo existe, tenho a certeza que é a dele!) a segredar: “fuma! Um dia não são dias e talvez até consigas fumar só um cigarro…”
No meu caso, por segundos ou minutos, acho que a voz tem razão, que depois de 4 meses sem dar uma passa sou capaz de controlar o que quiser no que aos cigarros diz respeito. Tenho sido salva por uma pequena e concisa palavra: medo! Medo de não ser capaz de me ficar pelo tal cigarro e, assim, deitar por terra, num minuto, o que conquistei em 120 dias de luta, de força de vontade, por vezes, de sofrimento. Medo, também, de desiludir a minha família e todos vocês com quem tenho partilhado, mensalmente, esta minha odisseia.
Num destes dias difíceis fui almoçar com uma amiga que deixou de fumar um mês antes de mim e que consegue fumar apenas um cigarro por dia, ou até de dois em dois dias. Amo a minha amiga, mas, na altura dessa confissão, odiei-a com todas as minhas forças. Invejei-a mesmo. Coisa mais ridícula…
Foi depois disso, quando ia no carro a dar largas ao pensamento, que me lembrei de criar o tal “clube” online para (ex-)fumadores, porque deve haver géneros de adictos ao tabaco para todos os gostos e feitios. Eu identifico-me com aqueles que julgam que se cederem à tentação e derem uma passa, fumam um maço de seguida. Por isso, às vezes, precisava que alguém me confirmasse que assim é. Só para ter a certeza! Alguém que me dissesse: “sei tão bem o que sentes! Vai dar uma volta, vira o teu mundo do avesso, mas resiste. Porque senão estás perdida. Vais voltar a fumar e a fumar mais do que alguma vez fumaste!”
É claro que, conscientemente, sei que assim é. Mas quando o vício aperta, ter uma voz que faça o contraditório do Diabo não é má ideia!
Ao fim de 4 meses sem fumar a experiência que partilho com maior firmeza é a de que a melhor forma de combater o vício do tabaco (e, também, os quilos a mais que a falta dos cigarros nos traz!) é o exercício físico. Sinto-me muito melhor quando ando uns bons quilómetros. Devia fazê-lo diariamente, mas no inverno, com chuva, é difícil. E, como já aqui disse, não sou fã de ginásios. Mas sei que tenho mesmo de me disciplinar na pratica de exercício porque, em mim, tem um efeito poderoso no combate ao fumo!
Dito isto, sinto-me feliz e, sobretudo, livre, ao fim destes 120 dias sem cigarros. Espero conseguir, um dia de cada vez, conquistar muitos mais 120. E 365. E todos os que me restarem de vida!
É também o que desejo para si que está a ler estas linhas e que deixou (ou está a pensar deixar!) de fumar.
FG
