Há muitos anos que queria colaborar com a Make-a-Wish, uma das associações que mais admiro no mundo e que se dedica a realizar desejos de crianças e jovens dos 3 aos 18 anos, com doenças graves.
Hoje cumpri esse sonho. Ou melhor, quase… Já explico porquê.
Vamos por partes e comecemos pelas “felizes”.
O Filipe tem 12 anos e foi evacuado de Angola gravemente doente. Está há mais de um ano internado num hospital em Lisboa, na esperança de fazer um transplante medular. Isolado num quarto, o desejo maior do Filipe era ter um computador onde pudesse jogar, brincar, aprender, ouvir música, fantasiar…
Fui com a Diana, minha “partner nesta missão” (a Make-a-Wish pede para as equipas de voluntários serem constituídas por duas pessoas), algumas vezes visitar o Filipe ao hospital. Cedo nos apercebemos, com a ajuda da EXTRAORDINÁRIA equipa médica que o acompanha, que um computador era, realmente, o que ele mais queria. Mas a intenção da Make-a-Wish, além de tentar realizar o sonho do Filipe, era, também, proporcionar-lhe um dia diferente. Um dia feliz!
Ele não conhecia nada de Lisboa, tinha sido levado diretamente do aeroporto para o hospital, mas, segundo a Dra. Sara, que o segue desde que chegou a Portugal, já tinha falado várias vezes no jardim Zoológico…
Decidimos então que o Zoo seria o local indicado para entregarmos, em nome da Make-a-Wish, o computador ao Filipe. Não nos enganámos. Foi uma manhã mágica! Para ele, para a Dra. Sara, para o Rafael, educador do Jardim Zoológico (a quem aproveito para agradecer toda a disponibilidade e simpatia!), para o pai do Filipe, que está com ele em Portugal, para a Diana e para mim.
No que me toca, por mais anos que viva, nunca esquecerei a felicidade, o brilho no olhar de uma criança a quem foi “roubada” a infância. E foi preciso tão pouco…
Por isso, antes de falar na “parte” mais triste desta história, quero agradecer ao Filipe por toda a sua coragem e à Make-a-Wish por me confiar uma “missão” tão nobre: devolver, ainda que por instantes, a alegria a uma criança!
Este post deveria terminar com a foto feliz do Filipe com o seu novo computador, mas, infelizmente, há um lado muito triste nesta história.
Como já disse, o Filipe foi evacuado de Angola há mais de um ano, gravemente doente. Existe, entre Portugal e os PALOP, um protocolo em que qualquer pessoa evacuada de um desses países, chegada a Portugal, tem exatamente os mesmos direitos de um cidadão português. Mas, ao que parece, as coisas não são tão lineares assim…
A comprová-lo está o facto de o Filipe ter um dador de medula há cerca de 4 meses (o que significa só e mais nada a sua salvação) e, por razões que a própria razão desconhece, para grande desespero da equipa médica que o segue diariamente, o seu transplante ainda não tem luz verde. Convém lembrar que adiar este processo, num doente como o Filipe, põe em risco a sua vida.
E assim, apesar da manhã mágica que passei com o Filipe, o meu sonho, tão simples quanto vê-lo curado, está por realizar…
FG